Tic Tac Tic Tac

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Banho tomado, bebé penteado, pijama quente e confortável. Bem alimentado, poucas luzes no quarto, música para bebé a tocar. Cama feita em forma de ninho.

Tudo certo, mas nada certo.

Mal se deita, começa a primeira parte de uma longa aventura noturna.

O bebé chora. Os pais aproximam-se e ficam a entoar uma canção, talvez a sua voz o acalme? Não resulta. Tocam no bebé, acariciam-no. Nada ainda. Colo?

Resulta sempre – quase sempre. Vai acalmando aos poucos, mas ainda agitado. Juntam-se as três dicas infalíveis: colo, canção, dança. Resulta. Adormece.

Os pais entram agora numa nova etapa deste jogo: “se paro, acorda”. E dançam, e cantam, e ficam. Começa a doer-lhes as costas, os braços, o pescoço. “Se paro, acorda”. “Não. Já está a dormir tão bem, tranquilo e aninhado. Vou deitá-lo”. Não acordou. Vão a correr vestir o pijama e aproveitar para ir também dormir. Pezinhos de lã, luzes apagadas. Cama.

Sono imediato, cansaço enorme. Sonha-se e de repente, bebé acorda. Faz sons, espera-se um pouco. Geme, e sim, por fim, chora. Frio fora da cama, lá vão eles. Será fralda? Muda-se a fralda. Chora. Fome? Sim, só pode ser fome, mamou pouco na última vez. Qual é o lado que mama agora? Sono, cansaço, falta de memória.

A bebé mama, a cabeça da mãe mal encosta o sofá adormece. Agora de barriga cheia, vai dormir bem. Aproximam-se os lençóis – chora. Dança, colo, canta. Passeia pela casa. Adormece. Entra no quarto, vamos deitar. Afasta-se da mãe e chora. Passeia. Dança. Canta. Não adormece. Cólicas, só podem ser cólicas.

Li que começam a partir desta idade. Massagem do bebé. Virar de barriga para baixo ao colo? Acalma. Respira tranquilo. Nova tentativa. Resulta. Não resultou. O pai tenta nova estratégia, colo e conversa. Longa e pausadamente. Adormecem mãe e bebé. De manhã as olheiras lembram os resquícios da aventura, mas aquelas bochechas de bebé minimizam tudo. Até o sono.

Numa breve pesquisa pelas infinitas respostas dadas pelo nosso comum Dr. Google, acedemos a várias “receitas milagrosas” acerca do sono do bebé. Tudo o que deve ou não ser feito. Mitos e realidades.

Normas e manuais de instrução. Na prática, existem bebés que dormem noite seguidas, outros que acordam muitas vezes e bebés que acordam de vez em quando. O cansaço dos pais, a falta de estratégias de resposta, levam a uma sensação de incapacidade perante aquela situação.

É por isso importante que os pais se concentrem em premissas essenciais: são fases/episódios que irão passar e melhorar. Podem pedir ajuda, à família, a um amigo ou simplesmente desabafar a dificuldade. Na verdade, apesar de todas as vicissitudes, o que será mais eficaz e recompensador é aproveitar estes momentos como especiais e de enorme ligação ao bebé.

“Entre o sono e sonho,

Entre mim e o que em mim

É o quem eu me suponho

Corre um rio sem fim. “

Fernando Pessoa

POR: Teresa Moos _ Psicóloga Clínica da Infância