
São cada vez mais as empresas de software que desenvolvem aplicações que distorcem rostos e corpos, numa criação de padrões de beleza irreais que, usados em excesso, podem provocar problemas de autoestima e danos na confiança e na saúde
A adolescência é a fase da afirmação, da definição do estilo e da solidificação de carácter.
É também a altura em que os namoricos ganham mais força e em que a aceitação entre pares ganha um poder especial. Os mais populares da escola ou do bairro são vistos como verdadeiros exemplos a seguir e, nesta era digital, a “popularidade” alcançada através das redes sociais assume igualmente especial importância.
Atentas aos interesses dos mais jovens e seguindo as tendências, as empresas do sector têm criado como cogumelos aplicações que permitem “embelezar” ou, digamos, corrigir o que não se gosta na imagem.
São apps com filtros que põem as pessoas mais bonitas, que permitem esconder borbulhas, disfarçar gorduras, mudar o tom de pele, engrossar lábios, mudar a cor dos olhos… enfim, um sem número de retoques que acabam por criar uma imagem irreal, fazendo com que a pessoa apareça de uma forma que não é.
Para os adolescentes que estão bem resolvidos quanto à sua imagem, os problemas não se levantam, mas o mesmo não se pode dizer dos que lidam com problemas de confiança e de autoestima, principalmente se os filtros forem usados de forma excessiva.
Isto porque segundo especialistas, os jovens, habituados a fotografarem-se constantemente com filtros, sentem-se desconfortáveis, quase como “despidos”, ao verem a sua imagem ao natural na objetiva.
“Quando as pessoas colocam o filtro na imagem e, por exemplo, mexem um pouco no nariz, tiram uma mancha, mudam os lábios, isso começa a fazer com que determinem o novo normal ao corpo e comecem a ter problemas em aceitar a sua imagem real”, explicam os médicos.
E nesta matéria, os psiquiatras alertam para a doença dismorfia corporal, caracterizada por um foco obsessivo de uma pessoa sobre o que esta considera ser um defeito.
“Começa com o que denominamos de insatisfação corporal ou com a própria imagem. Isso é comum nos adolescentes e, também persiste na idade adulta. O recurso excessivo a esta prática dos filtros pode potenciar o desenvolvimento deste transtorno”.
Karlla Lima, psicóloga clínica brasileira e especializada em temas sobre autoestima e autoaceitação, constata que tem sido comum pacientes chegarem com questões sobre uso das redes sociais, como a “busca do inalcançável”.
Para ela, os filtros vieram como uma ferramenta inofensiva, voltada para o entretenimento, porém, alguns seguiram para a área da estética, o que preocupa os profissionais da saúde. “O problema não está na utilização desse estilo de filtro, mas no fato de só se sentirem bem quando os utilizam”, diz.
Face a isto, o importante será sempre perceber se o adolescente se sente bem ao olhar-se ao espelho, sem edições, filtros ou retoques. E para isso, os pais devem estar vigilantes.
É possível aumentar a autoestima:
Não fazer comparações
Nunca esqueçam que nas redes sociais as pessoas só mostram o lado feliz, ou “encenam” cenas felizes. Portanto, nada de cair na tentação de comparar a vida dos outros com a nossa.
Manter a privacidade
É importante relativizar a importância dos gostos e perceber que “não vale tudo”. A exposição desmesurada não é aconselhada e só poderá trazer coisas negativas.
Cuidar de nós
Não há nada mais importante para gostarmos de nós do que sabermos cuidarmo-nos. Portanto, toca a comer bem e a praticar exercício físico, pondo de lado maus hábitos ou vícios.
Ficar offline
Às vezes é preciso desligar. É essencial termos tempo para desfrutar da vida real e ficar offline das redes sociais. É viver os momentos em pleno sem estarmos de telemóvel em riste.