Era uma vez uma galinha, que vivia na capoeira duma quinta e punha um ovo todos os dias. Podia ter tido pelo menos mil pintainhos, não fosse a dona tirar-lhe sempre os ovos. E cacarejava: «Um dia ainda vou fugir!»
No dia seguinte, fez o que tanto desejava: quando a dona entrou na capoeira, aproveitou a porta aberta e fugiu. Bem distante, aprontou-se a fazer o seu ninho bem redondinho e confortável, com o que de melhor encontrou na mata: folhas secas; fios de palhas; penas…
Sentou-se nele e pôs um ovo branquinho.
Antes de começar a chocá-lo, foi procurar o que comer.
Qual foi o seu espanto quando voltou e viu o seu ninho cheio de ovos de todas as cores e tamanhos.
Embora contente, estranhou, pois na capoeira tiravam os ovos e ali ofereciam-lhe.
A partir desse momento, mal saía do choco.
A galinha sentia-se cansada e com o corpo muito quente.
O tempo foi passando, até que… CRÁC!
Do primeiro ovo a estalar saiu um bicho de bico retorcido:
“Ai, mas que filho,
Eu até desmaio!
Em vez de pinto
É um papagaio.”
No dia seguinte abriu-se outro ovo e saiu de lá, rastejando, uma criatura comprida:
“Ai, mas que filho,
Como ele é diferente!
Em vez de ser pinto
É uma serpente.”
Nesta mesma tarde, partiu-se ao meio o maior de todos os ovos. Desconfiada, espreitou e pôs-se logo a cacarejar:
“Ai, mas que filho
Este é de truz!
Em vez de ser pinto
É uma avestruz.”
Ainda faltavam dois ovos. Curiosa, a galinha picou um deles e quase caía para o lado:
“Ai, mas que filho!
Deve vir do Nilo!
Em vez de ser pinto
É um crocodilo.”
Com o reboliço, no último ovo, já foi diferente.
Bateu as asas de contentamento, ao ver a penugem amarela:
“Ai, mas que filho!
Diz o meu instinto
Que este finalmente
É mesmo um pinto.”
Contente, mostrava às galinhas do mato a sua ninhada, tão variada e engraçada.
No entanto, a perdiz aconselhava que a galinha só tratasse do seu pinto e não ligasse aos outros bichos.
Mas como podia abandoná-los, se os chocou com tanto amor e carinho? Não tinham outra mãe para tratar deles!
Feliz, mas sempre num desassossego, pois:
O papagaio voava para as árvores, ela não sabia voar.
O crocodilo só estava bem dentro de água, ela não sabia nadar.
A serpente metia-se em todos os buracos, ela gorda demais, não a podia ir buscar.
A avestruz devorava tudo.
Só o pinto, se portava como um pinto.
Mas, ela de todos gostava e deles cuidava.
Coçava a serpente, porque esta não tem patas.
Enrouquecia a conversar com o papagaio.
Para a comilona avestruz, carregava muitos petiscos.
Em busca de sementes para o pinto, esgravatava o chão.
Lavava os dentes afiados do crocodilo.
Corria tudo bem, até que apareceu uma criança, que ao ver o pinto, pensou que seria boa ideia se o levasse para o jantar. Nem deu importância aos gritos da galinha.
Então, a criança foi-se afastando com o frango debaixo do braço.
Ao verem o que se passava com o irmão pinto, a serpente assobiando mostrou os dentes com veneno e a criança para fugir atirou-se ao lago; o crocodilo avançou com a boca aberta e a criança com medo subiu para a outra margem; ali estava o papagaio, numa árvore, que, chamando o pequeno de ladrão, dizia que o ia levar para a prisão.
Então, a criança fugiu.
O susto foi maior com a avestruz a aproximar-se, parecendo uma perseguição, o que fez com que largasse a ave e só parasse na aldeia.
Às costas da avestruz, o frango voltou para casa.
A galinha, feliz, juntou todos os filhos e decidiu festejar com um bolo especial de vários andares.
“Um tinha milho para o frango.
Outro, peixe para o crocodilo.
Outro, fruta para o papagaio.
Outro, ratos para a serpente.
E por cima, a enfeitar, sete berlindes, um amarelo e 20 pregos”, o pitéu extravagante para a avestruz.
Jantaram, e os filhos decidiram cantar à volta da galinha:
“Somos todos irmãos
Somos todos diferentes:
Há uns que têm bico,
Outros que têm dentes,
Há uns que têm escamas,
Outros que têm asas,
Na terra e na água
fazemos nossas casas.
Eu, só tenho pescoço.
Eu, só voo pelo ar.
Eu, só nado a quatro patas.
Eu cá gosto de andar.
Somos todos diferentes,
Mas, todos queremos bem
À boa galinha
Que é nossa mãe.”
(Adaptado de Luísa Ducla Soares)
Reflexão:
Ouvimos dizer que “A união faz a força”.
Tal como no lema dos três Mosqueteiros: “Um por todos, todos por um”.
“Todos diferentes, todos iguais”.
A família é a que cuida e ama!
O que importa é o respeito e a interajuda.
Uma família diferente, como tantas outras.
Mas, igual, no que diz respeito a sentir AMOR!
POR: Cristina Ponte e Sousa _ Educadora de Infância