O bullying através de meios digitais é cada vez mais frequente, até porque está massificada a utilização, por exemplo, das redes sociais, onde um simples comentário ou publicação de uma foto não autorizada pode ter consequências problemáticas.
E se algumas crianças e jovens têm dificuldade em contar aos pais o que se passa em ambiente escolar, cara a cara, nem sempre é fácil descortinar o que se passa por trás de um ecrã, onde o anonimato que um teclado à distância proporciona outra “liberdade” para ofender e humilhar.
Segundo um estudo recente (2019), quando há experiências negativas online, 22% não pede ajuda. Os outros queixam-se aos amigos (42%), pais (33%), irmãos (13%) e professores (5%).
No mesmo inquérito, 28% das crianças e jovens refere que os pais publicaram imagens ou textos sobre eles sem lhes perguntarem se estavam de acordo. Houve 14% de jovens que disse ter pedido aos pais para retirar os conteúdos. Quase 20% das raparigas dos 13 aos 17 fizeram-no.
É importante por isso que os pais respeitem a posição dos filhos, deixando de publicar as suas imagens sem antes lhes perguntarem se isso é algo que os incomoda.
Ameaças, humilhação e ofensas no ambiente das redes sociais ou em aplicações configuram o ciberbullying. Numa investigação da Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos) e publicada no JAMA Network Open, confirma-se que na actualidade muitos adolescentes dão real importância ao que se passa nas redes sociais e, sendo vítimas, abre-se espaço para problemas graves de auto-estima, onde se inclui o estado depressivo.
Em 2017, Portugal era o 15.º país com mais relatos de bullying na Europa e na América do Norte, ficando à frente dos Estados Unidos. Entre 31% e 40% dos adolescentes portugueses com idades entre os 11 os 15 anos confirmaram ter sido intimidados na escola uma vez em menos de dois meses.
Em 2018, quase uma em cada quatro crianças (23%) afirmou ter sido vítima de bullying no último ano, quando em 2014 a percentagem era de apenas 10%. Os que admitem fazer bullying são agora 17%, valor que também duplicou face a 2010. Esta percentagem “cresce com a idade e é mais elevada entre rapazes do que entre raparigas”, refere o estudo “EU Kids Online”, de Fevereiro de 2019.
Segundo o inquérito TALIS (Teaching and Learning International Survey), divulgado em 2019 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o bullying nas escolas portuguesas desceu para a metade em cinco anos – baixou de 15,3% em 2013 para 7,3% em 2018.
Apesar de Portugal se destacar por apresentar uma das descidas mais expressivas, estes dados podem também significar que as crianças e os jovens não apresentam queixa nem contam a ninguém.
O que fazer?
Sabia que se os colegas que estão a assistir a uma situação de bullying fizerem alguma intervenção nos primeiros 10 segundos, em 57% dos casos a situação de agressão ou humilhação termina?
A escola deve:
- Implementar uma política anti-bullying nas escolas, envolvendo toda a comunidade educativa, para criar um ambiente escolar seguro.
- Criar políticas anti-bullying que façam parte do currículo, plano anual de atividades e do regulamento interno.
- Criar mecanismos de formação e sensibilização para professores e profissionais sobre a problemática do bullying, para melhor lidarem com estes incidentes e melhor apoiarem as vítimas, as testemunhas e os agressores/as.
- Deve diagnosticar os efeitos do bullying (onde, como e com quem), através de questionários aplicados aos alunos e outros membros da comunidade.
- Informar, sensibilizar e mobilizar sempre que possível.
As vítimas devem:
- Falar, não ficar com o sofrimento das agressões dentro delas, num silêncio que as destrói emocionalmente.
- Dizer a um adulto quando são provocadas, humilhadas ou agredidas constantemente.
- Evitar o agressor.
- Tentar afastar-se de possíveis situações de conflito.
- Distrair o agressor, não lhe dando importância, não mostrando inquietação nem medo.
- Estar sempre que possível com amigos/as.
As testemunhas devem:
- Dizer ao agressor para parar.
- Ajudar a vítima a afastar-se da situação de humilhação e agressão.
- Pedir a outros amigos para ajudar a resolver a situação.
- Pedir ajuda a um adulto ou relatar mesmo depois do incidente ter acontecido.
Os agressores devem:
- Ser responsabilizados pelos seus atos, não obrigatoriamente pela via punitiva.
- Sempre que possível, ser integrados em programas de acompanhamento e recuperação.
- Os agressores devem fazer parte da definição das suas eventuais sanções.
Os adultos devem:
- Estar atentos a possíveis sinais de bullying nas crianças e jovens.
- Fazer perguntas diretas às crianças, sobre como os colegas as tratam e se testemunham com frequência situações de bullying.
- Cooperar com professores, assistentes operacionais e todos os outros membros da comunidade escolar para abordar e resolver incidentes de bullying.
- Encarar relatos e situações de bullying com toda a seriedade, por menores que possam parecer.
- Reforçar positivamente a atitude da criança que relata episódios de bullying.
- Ensinar as crianças a serem assertivas e não agressivas.
- Sensibilizar as crianças para estratégias para lidar e combater o bullying.
- Promover ambientes e atitudes favoráveis de socialização para as crianças.