“O desenho é precedido pela garatuja, fase inicial do grafismo. Semelhantemente ao brincar, se caracteriza inicialmente pelo exercício da ação. O desenho passa a ser conceituado como tal a partir do reconhecimento pela criança de um objeto no traçado que realizou. Nessa fase inicial, predomina no desenho a assimilação, isto é, o objeto é modificado em função da significação que lhe é atribuída, de forma semelhante ao que ocorre com o brinquedo simbólico.”
Piaget
O desenho é uma das primeiras formas de expressão da criança e acompanha-a durante a infância. O desenho e a pintura são as atividades plásticas mais frequentes na infância.
O contacto com diferentes materiais estimula as ideias e a maneira da criança se expressar, pode ser com lápis, caneta, giz, carvão ou pintura de dedo.
As atividades gráficas e plásticas representam uma linguagem para as crianças. Estas desenvolvem a habilidade motora, a sua perceção, emoção e inteligência.
Quando a criança desenha, comunica, deixa falar o seu inconsciente, sendo que o desenho funciona como indicador do desenvolvimento maturativo e intelectual.
Existe relação entre desenvolvimento do desenho e a aprendizagem da escrita. Favorece a atualização e a aquisição de conhecimentos, potenciando a assimilação e a interiorização desses mesmos conhecimentos.
Os desenhos revelam aspetos da personalidade e da situação familiar e social.
Os trabalhos de Piaget desenvolveram-se no início do século XX, em momentos que a psicologia estava orientada para três conceções:
Behaviorista: Produtos da aprendizagem: descrever, mensurar, controlar o comportamento.
Gestalt: Teoria da forma. Imagens, pensamento e sentimentos formam a estrutura da mente.
Psicanálise: O inconsciente para compreensão do desenvolvimento da personalidade humana.
Tendo em conta, e por base, as fases de desenvolvimento segundo Piaget, verificamos que este divide por diferentes períodos, as idades dos 0 aos 12 anos; podemos então referir em paralelo as fases do desenho infantil segundo Piaget:
-GARATUJA – Fase sensório motora (0 a 2 anos) e parte da pré-operatória (2 a 7 anos): Revela o olhar da criança!
A criança demonstra gosto pelo desenho e a figura humana é inexistente ou pode aparecer de forma imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste.
‘-» Desordenada – Movimentos amplos e desordenados.
Com relação a expressão, vemos a Imitação, mas ainda não a representação. Ainda é um exercício.
‘-» Ordenada – Movimentos longitudinais e circulares; coordenação Óculo-manual. A figura humana pode aparecer de Forma imaginária, pois existe a exploração do traço; interesse pelas formas.
-PRÉ-ESQUEMATISMO – Dentro da fase pré-operatória (2 a 7 anos), aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, sem relação entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, devido a vínculos emocionais. A figura humana, torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo. Na utilização das cores, não há ainda relação com a realidade, o que depende do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: “nós representamos juntos”.
-ESQUEMATISMO – Fase das operações concretas (7 a 10 anos).
Esquemas representativos, começa a construir formas diferenciadas para cada categoria de objeto, por exemplo descobre que pode fazer um pássaro com a letra “V”. Uso da linha de base e descoberta da relação cor objeto. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como:
exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo
Aparecem fenómenos como a transparência e o rebatimento.
-REALISMO – Final das operações concretas. Consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação roupas diferenciando os sexos.
-PSEUDO NATURALISTA – fase das operações abstratas (10 anos em diante).
É o fim da arte como atividade espontânea.
Inicia a investigação de sua própria personalidade.
Características: realismo, objetividade, profundidade, espaço subjetivo, uso consciente da cor. Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções.
Através do desenho a criança comunica expressando os seus sentimentos, as suas impressões do mundo envolvente, desenvolvendo a sua criatividade e habilidades psicomotoras.
POR: Cristina Sousa e Ponte _ Educadora de Infância